Que o samba é o seu dom não temos dúvidas. Profissionalizou-se baterista aos 18 anos e de lá pra cá nunca parou. Império Serrano de coração, torcedor do Flamengo e filho de Oxúm e Ossain, Das Neves começou a observar a bateria ainda menino, nas festas na casa da tia na Praça Tiradentes e nos terreiros de candomblé. Os atabaques bem tocados chamavam sua atenção e ele pressentia que o instrumento já era parte dele.
Neste show dia 15 de dezembro, a partir das 21h, no Teatro Oi Casa Grande, Wilson das Neves irá comemorar ao lado de amigos, parceiros de música e do público seus 80 anos, completados em junho deste ano, mas também seus 62 anos de carreira e os 100 anos do ritmo mais popular do Brasil, o samba.
Além das participações ilustres de Ney Matogrosso, Bnegão, Emicida e do violonista Cláudio Jorge, quem vai sambar junto com Das Neves no palco do Casa Grande, relembrando o dia mágico da abertura dos Jogos Olímpicos, é o garoto Thawan Lucas, passista de 8 anos. E para trazer ainda mais samba para a roda os porta bandeiras da Império Serrano e da Tupy de Brás de Pina passarão por lá.
No roteiro do show músicas que fizeram parte da trajetória do baterista, compositor e cantor Wilson das Neves, carioca criado em São Cristóvão, e hoje morador da Ilha do Governador, como o clássico O samba é meu Dom, O Dono da Razão, Não dá, Imperial, Traz um presente pra mim, Samba para João, Grande hotel, O tempo em que eu era criança, Não existe mais saudade e muitas outras.
São 13 discos lançados, mais de 200 melodias compostas e gravações com cerca de 750 artistas. Rodou o mundo e é parceiro de Chico Buarque (que se refere a Wilson como o seu personal batera), Paulo César Pinheiro, Aldir Blanc, Martinho da Vila e Moacyr Luz. Começou a compor com 36 anos e resolveu cantar aos 60, após um convite para gravar suas canções no que viria a ser seu primeiro disco solo, O Som Sagrado de Wilson das Neves. Sempre se reinventando, Das Neves gravou com Elza Soares o emblemático LP Elza Soares - Baterista: Wilson das Neves (1968) e com ela rodou a Argentina; com Chico Buarque toca desde 1982 e com Ney Matogrosso ficou em turnê por dois anos. São histórias que só um bamba do samba e da música brasileira pode colecionar, por isso acaba de ser lançada “Memórias de um Imperador. Ô sorte. Uma breve biografia do sambista Wilson das Neves’’, do professor de História Guilherme de Vasconcelos. Outra homenagem ao baterista vai estar breve na telas do cinema, pois está sendo produzido por Alexandre Segundo, “O samba é meu dom – Vida e obra de Wilson das Neves”, com direção de Cristiano Abud.
Wilson das Neves conta que conheceu o Bituca, Edgar Nunes Rocca, que era baterista e começou a ir aos bailes com ele para dançar e carregar os instrumentos. “Quando eu fiz 17 anos ele me perguntou se eu não gostava de bateria e aí ele me levou para a escola, um ano de estudo já me tornei profissional. Ele me mandava tocar no lugar dele e aí eu fui adquirindo bagagem. Foi assim e estou até hoje. Cada vez que eu toco eu aprendo mais, ainda estou aprendendo”, declara.